Moeda sul-americana?

Moeda sul-americana?

Na recente visita a Argentina o presidente Lula juntamente com o presidente argentino Alberto Fernández, defenderam a criação de uma moeda sul-americana.

Pelo menos aparentemente não se trata de uma moeda única, foi dito se tratar de uma moeda comum uma espécie de unidade de comércio para estreitar as relações econômicas entre os países, esse plano pode criar a segunda maior unidade monetária do mundo.

Exemplo do Euro

Para melhor entendimento dessa relação de moeda comum, vamos traçar um paralelo com o principal modelo no mundo, o Euro.

A criação do Euro se deu em diversas etapas, sendo um desejo antigo da União Europeia desde o final da década de 1960. Com as lembranças das guerras mundiais ainda muito frescas, houve um forte desejo de estreitamento nas relações não somente por motivos econômicos, mas também para apaziguar o clima de tensão.

A ideia começa a sair do papel em 1979 com o sistema monetário europeu (SME) dando início a uma coordenação das políticas monetárias entre os países da União Europeia, o período de transição teve três demoradas etapas que foram gradualmente implementando a moeda única.

A primeira fase teve início em 1 de julho de 1990, o Euro seria lançado somente na terceira fase em 1999, sendo que por três anos foi uma moeda invisível, utilizada para efeitos contabilísticos e pagamentos eletrônicos. Só entraria realmente em circulação em 2002.

Regras do euro

Para se adentrar a zona do Euro foram estabelecidos critérios, para garantir que o Estado-Membro tenhas reais condições de adotar a moeda comum, sem representar riscos econômicos para si mesmo ou para a zona do euro.

Os critérios de convergência econômica são: estabilidade de preços, finanças Públicas sólidas e sustentáveis estabilidade das taxas de câmbio e taxa de juros a longo prazo.

Tem sentido uma moeda única?

A única maneira de se pensar em uma moeda única que faça sentido, e tenha um relativo sucesso como o Euro. É necessário fazer um molde estruturado que envolva planejamento, desenvolvimento, implementação e pré-requisitos necessários para adentrar o bloco.

E mesmo com todo longo e laborioso processo de implementação, a zona do Euro sofreu um forte baque com a crise na Grécia em que foi necessária uma forte ajuda do principal país do bloco, a Alemanha.

Juntos FMI e União Europeia desembolsaram um pacote de mais de 100 bilhões de euros em fundo de emergência para salvar a economia grega.

Essa crise foi tão forte que obrigou outros países da zona a se adequarem. Com corte de gastos e aumento de impostos, causando uma onda de pobreza e desemprego seguido de um encolhimento da economia.

Na época, o Euro sofreu uma forte queda, e a unidade do bloco foi seriamente abalada.

Moeda comum sul-americana

Essa possível moeda única no Mercosul, já foi defendida pelo antigo Ministro da Economia Paulo Guedes. Segundo ele o Brasil faria o papel da Alemanha nesse hipotético bloco, dando a entender que como país economicamente mais forte exerceria um papel de liderança e conduziria o projeto econômico.

Com isso, membros do governo de Brasil e Argentina que participam desse novo projeto já alertaram que não seriam o fim das moedas atuais, eles alegam que não estamos tratando de uma moeda única. Seria uma moeda comum para fins comerciais, gerando uma redução de custos e dependência dos países ao dólar, além de a criação de um banco central sul-americano – que seria o responsável por emitir e regulamentar a nova moeda.

O mercado, entretanto, reagiu mal a esse possível cenário, o medo é de estarmos tratando de um pretexto para iniciar um projeto de moeda única de forma precoce e atabalhoada.

Pontos de atenção

Diante do atual cenário fica algumas dúvidas de como será essa implementação, e surgem alguns pontos de alerta. Caso acelerem o processo podem aparecer grandes problemas, diante do modelo europeu anteriormente exposto. Foi visto que a execução do projeto econômico teve três grandes fases, um período no total de 10 anos.

Isso não foi por acaso, pois se trata de um plano altamente complexo envolvendo inúmeras economias com características próprias e que vivenciam momentos econômicos distintos.

É preciso ter a noção de quais países tem condições de adotar a moeda, argentina e Venezuela os dois maiores parceiros nesse programa até então, hoje experimentam um total descontrole de gastos, não tem reserva de dólares e tem problemas com hiperinflação.

Logo, se um dos países do bloco não tiver responsabilidade fiscal, todas as economias dos outros membros serão colocadas em xeque, vide a crise da Grécia. Sem dúvida é de extrema importância ter critérios de convergência econômica.

Outro ponto é que por mais que o Brasil como maior economia do bloco tente ser como Alemanha em seu respectivo cenário, ainda somos um país em desenvolvimento caminhando em passos lentos para resolver a nossa própria economia, com a inflação não tão controlada e uma taxa de juros elevada. Sem contar com os graves problemas de infraestrutura, como, por exemplo, não temos saneamento básico em grande parte do território nacional.

Vinicius Martins

Advogado especialista em economia. Apaixonado por livros. Já trabalhou em banco. Decidiu criar um portal com conhecimentos gratuitos.

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